terça-feira, 23 de abril de 2013

CONFUSO-O AMOR




O amor lavou-me em lágrimas de abandono
Sem sono, sem dono, sem dolo
Fez um preâmbulo de adeus
Sem Deus, sem nada, sem vento, sem lamento.
O amor tirou a folga do tempo, ele voltou indeciso
Não sabe dizer o que sente. E, por isto, talvez sinta.
O amor partiu os papéis, em sereno modo
Regou um jardim inóspito que virou oásis.
Era um calmo prodígio, e mesmo sem saber
Quem era, ainda que o fosse mestre, dizia-se aprendiz.
O amor já andou por Paris, passeou por Roma
Levou-me em meio a lama de papéis e talvez
Quando retome sua lucidez
Leve-me consigo a um elevado sentir.
Ele fala pouco o amor.
Magoa muito, mesmo sem querer.
Displicente, demente, silente
Tem uma essência de pureza
Um sexy appeal que arrebata.
Por vezes mata, e, na lata, seja
Tão louco por amar
Quanto eu.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

PLANO DIVINO




É certo que Deus me guarda algum plano divino,
Que meu destino esta em minhas mãos, mas o mapa,
O caminho foi indicado para meu esclarecimento.
Por mais que não existam tormentos em mim,
Pacificada na quietude do meu ninho, sou ave
A planar por esclarecimento.
E para meu entendimento criou-se o tempo,
O modo que o Pai me explica o que não compreendo,
Que inspira os remendos do espírito ferido,
O remédio das minhas chagas,
O antídoto para minhas mágoas,
E um rio novo que leve o veneno chamado saudade.
Enquanto divago nos planaltos, sei que Ele do alto me vela.
E que não existe cela, pois sou livre.
Hoje compreendo que se permaneço é porque ainda teço
Uma trilha própria além do que vejo desenhado por Deus.
Ele me deu esse arbítrio, pois desenhou apenas o início
Da minha saga, tendo deixado para mim
O poder e o direito
De escrever meu próprio fim.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

MEU ESPÍRITO




Um cenário exuberante é o meu espírito,
Observador, é o amante do tempo, ínclito
Em todos os caminhos que trilha, solícito
A toda alma verdadeira que se aproxima.

Dança ao som do infinito que semeia,
Como se violinos e flautas fossem parte
Da sinfonia da vida que em algum lugar
Aguarda a minha chegada sem partida.

Meu espírito teme, mas persevera, sonha,
Evoca alguma força maior que ele mesmo
E se rebatiza a cada manhã que se inicia.

Entre lágrimas e sorrisos não perdeu a esperança
De que o paraíso esteja logo depois daquela esquina
E se vê diante do espelho, num corpo de mulher
Com a alma de menina.

terça-feira, 16 de abril de 2013

A PAIXÃO DAS ESTRELAS




Das favas do céu que em ti derramo, o doce na minha boca,
Da mais louca fantasia que de mim tu dispas, o ramo lúcido,
Sou a noite quista no teu corpo, o tom que te harmoniza.
E se és poesia eu sou a tua poetisa, se tu fores canção eu serei a tua voz
E se existe nós além dessa brisa,
Perceba que minha pele hoje de ti precisa.
Nasci da ponta de uma estrela, numa madrugada certa
A escuridão do teu ser antes deserta, restou desperta
Nos labirintos do meu corpo de luz. A lua era vermelha,
A vida era centelha e corria a teu encontro.
Levei-te sem que me pertencesse, ou aquiescesse a entrega,
Da lâmina cega que fez o corte - o pacto de sangue,
Guardei-te a lembrança iluminada das fontes, que lavaram-te
Das distâncias intransponíveis erigi as pontes, que selaram-te
Os perfumes e os enlevos...O vigor do vinho, que bebes-te por fim.

O verso é o segredo que te transporta ao meu leito,
Feito de um terno peito amante e amigo,
Onde teu elo comigo não sabe encontrar fim.

Que se do calor espacial do meu corpo
Tu te apartas, nada te fartará só meu cheiro de jasmim.
E se tuas horas sem mim são tão vagas,
No devaneio de um encontro próximo que te traga
Venha apenas se não quiseres te apartar mais de mim.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

ROCOCÓ




Amei e amo sem dó. Em gala me aprumo, na sala me arrumo
Lindamente ainda que só. E se o baile me pretende, se a vida
Me desprende de seu nó, dando guarida a felicidade -essa voz,
Canto nos campos áureos o som do meu próprio gozo- pomposo
Ser que me acompanha na sanha da época da luz.
Enfeito-me, dama e bailarina, mulher e menina,
Deleito-me com as formas do espelho, o batom vermelho,
E o sim de mim a ti derramo enquanto arranho a melodia
De um bandolim num violino que aceita meu devaneio.
Amei e amo sem dó, escrevo mil cartas de amor,
Entrego-me na pureza da flor - que encontra a abelha
E que sabe que a centelha do amor não se apaga.
Amor que é amor não divaga, transforma a saga
Da existência e do ser...Evolui o estilo-lapida-se.
Amei e amo sem dó, sem clemência ou truculência.
Apenas preparo o solo, acolho meu pó
E flutuo com meus pincéis de ternura.

Delicadamente tão rococó,
Perfilando os meus desejos,
Que ei de satisfazê-los- porque
Amei e amo
Sem dó.