terça-feira, 29 de janeiro de 2013

EXISTIR ALÉM DO TEMPO





Com o passar do tempo
Fui separando joio do trigo
O bom do ruim, o certo do errado.
Redescobri em mim um mundo cerrado,
Pronto ao desvelo,
Entre o sonho e o pesadelo naveguei.

Conhecer-te tornou meu espírito
Ávido ao entendimento.
Olvidado nas lacunas, pronto a sair de
Um quarto escuro onde o medo
Era meu degredo.

Com o passar do tempo
Muitos vivem
Outros passam pelo existir
Como se fosse fácil
Como se luz e escuridão fosse
Algo de natureza tátil.

Os bons traçam um portal metafísico inatingível.
(Passei dessa fase - ainda que seja uma mulher)
De frases e fases

Interessa-me mais o mundo
De gente possível.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

UM NOVO EU




Quisera ser a canção que ouço
O pássaro que pousa em minha janela
Feliz pelas asas, contente sem ao menos
Ter casas, regozijante pelo singular voo.

E se entoo meus medos, e se te conto meus segredos
Parece que ainda me é tão pouco, esse titubear
De mim  - esse eco de um coração oco.
Assim verso para salvar o que me resta.

Na fresta da ignorância talvez te espere,
Crente que o caminhar não me desespere,
Que eu não mais exaspere pela incompreensão que se sucedeu.

Embora não seja aquele pássaro alegre
Eu ainda sorrio quando choro, nas esperança
De erigir um novo eu.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O PREÇO DA SAUDADE




De toda vontade que sinto de estar contigo, do teu peito amigo,
Para que pudesse lhe contar dos meus dias, das músicas que descubro,
Do céu rubro ao fim da tarde, da peças que o universo me prega,
Das coisas singelas que a vida me regra -  me concede e me nega
Eu pago um valor imaginário.

No meu itinerário existe um instante teu
Em que tua lembrança é viva como a água represada,
Como a saudade jamais amansada, e minhas indagações infindas
Das razões que não compreendo ainda.

Percebo que sou um relicário ambulante
Do instante em que ainda sentemos em alguém café.
E que todos o momentos em que não estive contigo
Sirvam para mostrar-me a minha própria fé.

E ao fim de nós, quando nada mais restar
Só a lembrança da tua voz na sala de estar de algum hotel
Eu também me hospede na lembrança do sonho
E acorde contigo no céu.


O LIVRO DOS ESPELHOS-II




Precisava atravessar a primeira impressão
Despir-se dos conceitos prontos.
Ainda que fosse criança por dentro
Vislumbrava as marcas do tempo.

Consumiram-lhe paciência
Instigaram-lhe a penitência.

Mas onde esta escrito
Em sangue ou pergaminho.
Nas mas antigas ranhuras
Escondem-se profundas fissuras.

Como a boca que se deseja
Num beijo de cereja
Refletido no espelho
A ser atingida pela volúpia
E tingida pelo meu batom vermelho.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O LIVRO DOS ESPELHOS-I




Não saberia dizer em que mundo se encontrava,
No espaço idílico que sua alma se refletia,
Apenas contemplava a luz e a pele que
Traduziam o conjunto dos seus pensamentos,
O tempo era apenas o convidado do baile.

Inerte valsou como se fosse pluma
Brincou como se fosse uma orquestra
Que lhe ditasse os passos.

Desejava apenas um instante de amor
E que o despertar se desse
Em amorosos braços.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

MELANCOLIA




Antiga alma que me cala no dia caloroso e na noite fria,
Preciso da doçura que me traga o valoroso amor - a empatia
Que libere meu peito de um querer impossível - inatingível.
Saudosa alma de um coração licoroso, açucara a minha cara
Me destila! E me destina um corpo vigoroso que a carne arde
Muito além do verso e da poesia.
Dessa pele que arrepia,
Dessa vista que embaça!
Da vidraça e do vapor - dá-me o calor além do frio
E o frio para os tempos da fervura.
Libera-me da loucura de amar demais,
Que só quero ser menina e caminhar na pracinha e
Ver os contornos de Deus nos céus.
Eu me esparramo em ambrosia,
Farto-me da caloria que me consome
Tento esquecer um nome
E dar voz ao que me enobrece.
Ainda quero o inusitado que dê vida a cada um dos meus sentidos
E ao mesmo tempo a paz me que abasteça o corpo desfalecido.
Parece-me que hoje tenho o tempo e não tenho o verbo
E que não sei mais nada de entrega
Quando penso haver sossego
E o desassossego é o desafio do vento.

Sinto visceralmente que tenho a brasa e não tenho ar.
Que tenho tanto e não tenho nada
Se eu não puder simplesmente além de viver o amor
Do amor enfim me recordar.