Já disse ao meu coração: conforme-se, há coisas sem jeito
As perfeições estão fora do meu alcance e amar é esse lance
Esse ato abstrato que quando concreto é de fato imperfeito.
Nunca entendi direito o amor. Por vezes me joga na parede,
Por outras me ama na rede, me mata de sede e me ama em
alguma cascata,
Nestas matas do meu cerrado. Por outras me deixa de lado,
E farta do destrato eu parto, ai ele se desespera, quer que
eu retorne
Brada aflito, quer eu volite ao seu encontro e que diga,
como se
Nada tivesse ocorrido: tu és o meu amado, meu escolhido.
Já disse ao meu coração: seja leve! O amor às vezes dura, às
vezes será breve.
Não existe forma de se prever, nem tampouco uma fórmula
perfeita de se amar.
O amor se dá entre pessoas, e estas são, por natureza, dadas
a deslizes,
A remoerem cicatrizes, e quando felizes apegam-se a saudade
E se tristes acham que estão sozinhas em alguma ilha de suas
próprias veleidades.
Esquecem que nesta vida tudo passa, tudo é efêmero, o ódio, a
angústia,
A incerteza, a beleza, a prosperidade, até mesmo a razão e o
amor.
Já disse ao meu coração: ame em primeiro lugar a mim!
E jamais pense que isso é egoísmo, não, jamais! É requisito
de amor sem fim!
Para se amar em plenitude quem virá, ou quem está comigo.
Sabendo das minhas falhas, das minhas fissuras, dos meus
abismos
Hei de polir o diamante que sou, minhas arrestas,
aprontar-me
Linda para a festa e sozinha ou, deslumbrantemente digna
para meu par,
Amarei com toda a intensidade
que sou,com toda a força do amor que me dou,
Porque ainda que imperfeita como o amor, porque existo,
concreta, flor humana,
É em meus espinhos que oferto o beijo da ternura,
E que me derramo, tenra loucura, que amar verdadeiramente é
dado aos loucos,
Aos puros de coração, aos poetas, já dizia Shakespeare, e porque não a nós
De todo imperfeitos
mas crentes de que amar é possível,
Mesmo o amor, ainda
que sendo amor e não meramente paixão
Nunca atingir o
exato conceito da perfeição.
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