Hoje, dia do escritor, vou contar
uma história. Em 1990, subindo a pé, a Avenida Isaac Póvoas em Cuiabá-MT, num
dia 25 de Julho, adentrei uma livraria. Uma das primeiras vezes que caminhei
sozinha por Cuiabá. Eu tinha 13 anos naquela época, um coração sempre
melodioso, mas ferido, pela recente partida da minha mãe, no mês de março
daquele ano. A essência das coisas a alma retém, e havia algo que me
direcionava para leitura, eu que vinha escrevendo meu primeiro diário tinha
onze dias, já havia lido o poeta Castro Alves, aos oito anos, sentia a falta de
uma figura materna que compreendesse ou que expressasse o que eu sentia. Em
meio a tantos livros, eu acredito nessas coisas de destino, quase mágicas, vi
um livro de capa verde, cuja autora era simplesmente -Cecília Meirelles- e a
obra "Flor de Poemas". Comprei sem qualquer dúvida. Foi meu primeiro
livro de poesias que comprei e que passei a carregar comigo para todos os
lugares. Lia Cecília nos recreios, em casa, na fazenda, repassava alguns poemas
com tamanha paixão que passei a cultivar um jardim lúdico em minha alma.
Naquele universo havia suavidade, dor, sentimentos românticos que embora eu não
compreendesse, pois nunca vivera um amor, forneciam elementos para toda uma
confecção futura de versos.Essa poetisa tem como característica um pensar
direto, claro, sem névoas. Sem muitas interferências, e que foi fundamental em
sua simplicidade para que eu compreendesse que o que eu sentia não era
unicamente meu, mas próprio de almas que vivem à flor da pele. Meu mundo e meu
momento passavam a fazer sentido, entre aquelas flores e bailarinas em poemas
eu dançava, meu mundo era de uma leveza singular, única, reconfortante e
inspiradora.Instintivamente comecei a escrever meus primeiros poemas de menina,
muito singelos, ainda no mesmo ano, e uma tentativa de mini conto que encontrei
esses dias todos inéditos.Tudo feito no ano de 1990. Um ano em que ocorreram
tantas coisas para o Brasil e para o mundo, mas que até aquele mês de Julho e,
posteriormente, até Outubro quando se encerrou meu primeiro ciclo poético, tive
um jardim encantado na alma, nutrido por aquela poetisa que me acolheu. Foram
rasgos de alma tão inocentes, tão intrínsecos e necessários, que permaneceram
guardados comigo por mais de 22 anos em cada uma de minhas mudanças, nas minhas
gavetas, nas caixas coloridas da alma. Aqueles poemas eram mais do que uma
vontade de fazer arte, o conceito de arte sequer havia sido refletido por mim.
Minha escrita era apenas a necessidade de transformar lágrimas em poesia, de
transformar dor em fantasia. Ser escritor é diferente de ser poeta. O escritor,
normalmente descreve, mergulha num universo que nem sempre sente, compreende,
aprende, recebe consultoria, mas não vivencia verdadeiramente no ser.Poeta
também é um escritor. Sempre será. Mas ele é o indivíduo que sente em letras,
por meio delas satiriza a si, ao mundo, faz as conjecturas do amor, traz
fantasia ao trivial, interpreta a própria alma, a alma alheia e a dos objetos
inanimados. Minha alma sempre foi poeta. Parou por algum tempo, esporadicamente
escreveu, nas inúmeras cartas, aquelas de papel, que sempre adorou narrar o
cotidiano, em que mesclava realidade e devaneio, nas músicas que fazia, nas
discussões sobre literatura. Alma de escritor é um conjunto de características
muito próprias, e de poeta muito especiais.Sou fruto dessa doce poesia. Que
acredita no amor como o sentir sublime. Que tem fé nas pessoas até que se prove
o contrário. Sim, uma poeta romântica e por qual razão não seria?Afinal tudo
que precisamos é de amor. A frase não é minha...é daqueles quatro poetas de
Liverpool "ALL YOU NEED IS LOVE", que por sinal, é o toque do meu
celular.Em 1990 Cecília Meirelles traduziu minha alma, e ainda traduz. Ela, em
sua sensibilidade, possui os códigos que me acessam, a delicadeza, o afago em
letras. A ela minha singela partilha neste dia do escritor, eu que sou aprendiz
de letras, que caminho pelos versos, pela prosa, entre o universo de um mundo
real e o meu primeiro jardim, onde planto cada uma das pessoas que são
valiosas, quer estejam no mundo material, no mundo dos sonhos, ou aquelas que
são estrelas como Cecília, mas que seguem nos iluminando em suas baladas de
amor.
Parabéns,bjs.
ResponderExcluirLindo!!! Parabéns!
ResponderExcluirOLá Mirian,
ResponderExcluirTexto realmente muito bonito, comovente. Cecilia é maravilhosa e não achaste figura melhor para se inspirar e fazer-se escritora e poeta!
(esses quatro de Liverpool, são ótimos também!)
Parabéns a ti pelo texto e pelo dia do escritor.
daufen bach.