sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

AINDA A MESMA

 


Vibraram as flores ao meu redor 

Da mesma forma que sinto

Sem a ânsia da juventude

A inquietude do tudo querer .


Chove lá fora meu bem

Eu canto para os anjos

Como num filme antigo

Caminho contigo, jaqueta

De couro e calça jeans.


Os olhos não temem anos

Os olhos reconhecem enganos

Neles residem planos

Que a alma visita

Ao entardecer.


É hora do café

O mesmo de sempre

Meu bálsamo

Meu salmo 

Meu ritual de fé

Quando fecho meus 

Olhos e sinto o gosto

Do amor

Como ele é.


sexta-feira, 30 de junho de 2023

O PODER DO PERDÃO

Há muito tempo quando escrever é um hábito, e talvez eu precisasse provar que era algo que eu fizesse com extrema facilidade, daí o fazia diariamente, eu disse que o amor era o antídoto para o desamor. Então se escrever é fácil para alguns, a palavra tem essa fluidez, poder de penetração, consequentemente, palavra poderia curar, ou, quem sabe, ser um exercício. Deus se faz conhecer na Palavra. Eu não vejo Sua face, mas pelo esforço em entender quem Ele É e que se faz conhecer experimento O Amor. Um amor que suplanta e supera as adversidades daquilo que sou, das minhas falhas, dos meus fins e recomeços. O amor de mim para mim mesma, este amor tão difícil de se encontrar e lapidar após os percalços da vida. Pois é certo: enquanto eu não amar adequadamente a mim mesma não serei capaz de amar ao próximo. Saber ser grato ao universo e a Deus é o caminho desse amor próprio. A gratitude é a excelência do amor. Assim como o perdão é requisito Dele. O perdão é o vaso que se esvazia para o amor entrar. É o depurador sagrado que permite a transmutação da energia cósmica. Libera o porvir. É como limpar um armário cheio de coisas que não nos aprazem para dar lugar a bonança que virá. Para amar é preciso estar leve, nesta vida tão breve. O perdão é presente que se recebe e se dá. Em sua magnífica e resplandecente oração do Pai Nosso o Mestre Jesus ensinou que o perdão é via de mão dupla – o Pai perdoa-nos e nós precisamos perdoar. O Pai nos ama e somos amados por Ele. O Pai é por nos amado e devemos amar a nós a Ele e ao próximo. “Ame a seu próximo assim como a si mesmo.” Mateus 22:-39 Ainda que não consigamos conviver com ele, queira o bem. Ore por ele, peça que Deus interceda por você e por Ele, pois no plano celeste nenhuma vida se cruza sem que haja um propósito, ainda que não compreendamos. Palavras difíceis complicam. É no simples que reside o grande mistério da felicidade. No desapego do vaso, na libertação do espaço que a luz encontra lugar para o novo. O perdão é o caminho do amor, que tudo cura, como uma pérola é nosso processo de santificação e de imitação do Amado Mestre. Amar é sair da dor da escuridão. Haja luz.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

AS COISAS DE DEUS

o difícil não é falar e sim crer sempre ser ouvido pois a resposta é só desacompanhada da outra fala. vem como um pássaro que adentra a casa uma folha que cai um copo que se quebra. a fala de Deus nem sempre faz barulho nem sempre é perceptível ou tem um sentido pronto. Ele se revela mais nos silêncios por meio de coisas. quando a palavra é só a desculpa para o grande acontecimento.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

AMOR SEM NOME

Amor da minha vida
Razão minha 
A tarde caminha 
A vida é distante
Estou adiante 
E neste instante 
Em tua frente.

Silente é o vento
Que te beija o beijo meu
E avisa
Que a brisa 
É a minha mão 
Que alisa
O cabelo teu.

O quão deserto é teu mundo
Sem meu amor dentro dele?

Sem oásis, sem tempestades,
Sem vagas ou ondas
Onde te afagas
Das saudades!?

Ah amor meu!!!
Não me digas 
Ainda.

Ouve, apenas.
Minha respiração.

Ela busca
O ar que tu respiras.

Minha audição  
Quer tua voz,
Meus lábios 
Teu beijo
E meus olhos

Buscam-te
Na constelação 
De Órion.

Ainda não cheguei 
Amor meu, porquanto
Sou miragem.

Leva-me viva na tua viagem
Não como bagagem necessária
Ou companheira.

Faz de mim teu destino
Mas que teu desatino
Mas também o amor
Da tua vida inteira!

sexta-feira, 8 de abril de 2022

DAS PROMESSAS QUE O AMOR NOS FAZ

Qual o calor de fim de tarde -meu peito arde- como se fosse Doce feito suspiro recém saído! Trazendo o gosto do primeiro beijo Dado sem compromisso de delírio... Beijei o céu da boca do amor Derretendo! E revelei a ele que outro beijo Igual jamais encontraria. Beijo de poesia, em cafeteria Em alguma estrada da vida Em ruas e casarios além De desertos e rios, além! Do mar Do amar Das promessas que eu nunca fiz Das vontades que o dom de amar Quase nos ferem por um triz. O suspiro - na alma trago Do amor que vivi e vivo! Não posso dizer que não mais Amarei Isso é algo que não saberia fazer... Sabendo o quanto tentei E ainda assim amo Sem nada em troca querer.

quinta-feira, 17 de março de 2022

O TEMPO QUE NÃO ESCREVI

Muda a voz Contudo a alma Não muda Transmuta. Desnuda horizontes Fontes do inesgotável. Apalpo folhas do imaginável Afago teu rosto quase esculpido No peito da saudade. Mudas de flores Mudas das minhas mágoas. Chágas que carrego dos sentidos Pormenores Do que não digo, do tempo que que não escrevi Quando tudo o que senti não poderia ser entendido Tampouco transcrito em palavras. Plantas plantadas Mudas O tempo que nada disse. Mas a alma jamais se cala!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

JUSTO É MEU DEUS




Quando tudo parece estar fora de contexto
A vida elíptica suprime o próprio entendimento
Pouco parece fazer sentido e os valores
São invertidos além da lei da gravidade e do firmamento.

Os anjos choram lágrimas de sangue, os ímpios
Transbordam seu veneno ao contento
Só o Senhor poderá nos salvar dessa guerra
Que diuturnamente estamos vivendo.

O concreto me caminha nas ruas,
A criança ainda vive aqui dentro,
Cantando hinos ao Senhor
Rogando por todos livramento.

As tarde ainda seguirão as mesmas
Entre as sombras dos pinheiros 
Onde os pássaros velam os justos
Em seus repousos passageiros.

Quem luta a guerra santa, vendo a noite em pleno dia
Recolhendo as misérias humanas 
E as transformando em homilia.

Haverá de beber do bálsamo do Pai, liberando o perfume
Purificando a vida de todo mal para que o justo seja ungido
E o ímpio não fique impune.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

ROSAS VERMELHAS

 



Saberia do gosto da rosa

O nome da flor em prosa

Que de rosa goza da cor

E deleita-se de ser amor.


Saberia porque recorda

O verde da folha e olha

O vermelho dessa seda

Da carne e de seu liquor.


Apetece, e aquece o céu

Entre nuvens de cetim

Onde perfumes te absolvem.


De ser servo sob o véu da flor

Entre o verde e o azul sem fim

Dos olhares do meu amor.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

O AMOR, A FÉ E A ESPERANÇA

 

A tarde sempre me sorri as dezesseis horas, mesmo quando o meu peito chora. Talvez porque meu coração viva de saudades.

Nesses dias em que adoço meu café com melancolia sinto o calor das asas do céu. Elas me abraçam quando eu não consigo caminhar por mim mesma, sustentar o peso sob meus ombros, nem discernir os porquês das dores.

É nestas horas que Deus me abraça.

Quando eu procuro compreender meu propósito, minha pequenez, Ele vem e me leva mansa e pacificamente através do vale das sombras, apesar da minha ínfima compreensão da Sua graça.

Olho os campos dentro de mim. Estes que foram criados pelas mãos divinas. As plácidas águas que após as tempestades se realinham.

Torno a olhar para minha pele calejada pelas feridas de dentro, aquelas que fui calando para ser a fortaleza quando eu ainda não havia tido tempo de nutrir meu espírito de colo.

E nestas horas em que o sal da terra recobre meus sonhos, ainda tantos e busco, no pranto uma esperança, um sopro de conforto Ele me abraça.

Alguns dias mais, outros de forma tão automática que me pego falando em Seu nome palavras de amor e afeto. Entregando infindos momentos de louvor íntimos, onde duas linhas de Sua palavra se tornam edifício concreto em minha morada.

Luto diariamente pela ternura para que ela adoce meu café.

Pela fé para que ela alimente minha alma.

Para que a esperança seja meu berço e que eu possa levá-la amorosamente.

Nessas horas, talvez, compreendo algum motivo desse lapidar continuo, que nos torne mais dignos, serenos e afetuosos.

É neste instante que Deus se deixa abraçar por mim.

terça-feira, 2 de junho de 2020

NAMORADOS



Quando o amor esculpiu-me plácido
O Cupido nos jardins da ternura
Embevecido da candura
Também por mim se enamorou.

Fulguram-me as estrelas de Órion
Nesta paixão que nos arrebata.
Adentramos a mata fresca 
Ocultamo-nos na poesia.
No remanso onde repouso desvelo
Delicados gestos que revelo
Pouco a pouco, posto que nada tem fim
Tampouco destino.

Em teu corpo eu selo rosas.
Planto perfumes como deuses astronautas
Apodero-me tacitamente 
Dos teus altares.

E o silêncio quando coloriu o mundo
Veio depois
Que mergulhastes 
Em mim, no profundo do meu azul
Para, que enfim
Corpo e Alma
Cantassem
A mesma canção...



terça-feira, 2 de julho de 2019

A TRILHA DO DESEJO...



O que seria do tempo
Essa vaga coisa
Que se assemelha ao nada.
Seria o enfado
Da boca
Ou seria o enfado 
Que te draga
Aos meus cabelos dourados...
Não...Não me olheis
Como os colibris
Ousam olhar as rosas do jardim.
Eu sou apenas
Bruma...
Materializo-me
Em gotas de cristais
Que selam
Tua boca.
E te adormecem
Na quietude
Do campo...
Na loucura
Da distância
Onde me tens,
Na luz
Pouca...

A PALAVRA

Em meus momentos de silêncio
A palavra me completa
Sinto a fome da escrita
Daquela que a alma esperta!
Junto uma letra daqui
Outra ali jaz a sentença!
Surgem qual feito o ar
Sem pedir recompensa!
Tenho versos soltos na mão
Alma elevada em pontos.
São contos, poesias,
Canção! Palavras que vêm em sonhos!?
Nenhuma palavra é estática
Vivem vindo e indo qual poética.
Num mundo de encontro de letras
Todas em si magnéticas.
Tenho versos soltos e livres
Em busca de sentimento.
Venham palavras venham todas!
Em pesar ou contentamento!
E assim, as amo e as cultivo
Liricamente em festa!
Na intrínseca essência da vida
Da alma que já nasceu poeta!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

UM BREVE CONTO DE NATAL



  

A BRIEF CHRISTMAS TALE

The day has dawned raining and some of my loves still sleep. While some people are already starting to prepare the Christmas dinner, I am calm. I made my sweet treat yesterday. Strudel . An old recipe, passed on to my beloved great-grandmother and learned by me through my maternal grandmother. My mother never learned it, for it was always Bisa Ana who made the lovely candy on our natalies, and after the death of my mother who happened to do it was my grandmother, who, after much insistence taught me.
While Debussy's " Claire de Lune " cherishes my heart I still need to talk about this candy. I do it for innumerable reasons that not only aromatize the house with the lightness of odors of jellies, raisins (yes, I fear raisins) nuts and chocolate (the recipe has evolved and for children the version is Nutella).
I do it to fill my heart with love.
Love. They are hours opening and filling the dough, standing, in a delicate work so that it does not get too thin, because the art of this candy is to know how to open the dough, just as it is an art to know how to open the heart.
Love, despite being energy is matter also. According to the impenetrability theory two bodies can not occupy the same place in space. Thus, in order to fill ourselves with love, we need to empty our thoughts and hearts of negative energies in order to make room for love.
This is not an easy exercise. But it is possible. To love, truly is not easy. Sometimes we are doomed to the thought that we should seek the perfect person, to love the perfect person.
Uncomplicating the heart, forgiving, moving forward is the only way to overflow love.
So this sweet is my call to the ancestral and universal Love. It is as if I close my eyes and invite all my loves from the past and the present to receive the best in me.
Perhaps the secret of happiness, the remedy for melancholy is to love the imperfect, to forgive, and to free the heart so that it is occupied only with good things.
Forgiveness is the great deliverer of the one who forgives.
It is the divine gesture of infinite magnitude.
It is what sweetens life , which transforms and purifies. Forgiveness and love are essential to happiness.
So, this is my sweet wish to all of us. A heart full of love and perfume today and forever.

Merry Christmas
Mirian Marclay


O dia amanheceu chovendo e alguns de meus amores ainda dormem. Enquanto algumas pessoas já começam a preparar a ceia natalina estou tranquila. Fiz meu doce predileto ontem. Strudel. Receita antiga, passada a minha saudosa bisavó e aprendida por mim através da minha avó materna. Minha mãe jamais aprendeu, pois sempre era a bisa Ana quem fazia o adorável doce nos nossos natais, e após o falecimento de minha mãe quem passou a fazê-lo foi minha avó, que, depois de eu muito insistir ensinou-me.

Enquanto “Claire de Lune” de Debussy  acalenta meu coração ainda preciso falar desse doce. Eu o faço por inúmeras razões que não apenas aromatizar a casa com a leveza de odores de geleias, passas (sim, temo passas) nozes e chocolate (a receita evoluiu e para as crianças a versão é de Nutella).

Eu o faço para preencher meu coração de amor.

Amor. São horas abrindo e recheando a massa, em pé, num delicado trabalho para que a mesma não fique demasiadamente fina, pois a arte desse doce é saber abrir a massa, assim como é uma arte saber abrir o coração.

O amor, em que pese ser energia, é matéria também. Segundo a teoria da impenetrabilidade  dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Assim, para nos preenchermos de amor precisamos esvaziar pensamento e coração de energias negativas para abrirmos espaço ao amor.

Isso não é um exercício fácil. Mas é possível. Amar, verdadeiramente não é fácil. Por vezes estamos fadados ao pensamento de que devemos procurar a pessoa perfeita, amar a pessoa perfeita.

Descomplicar o coração, perdoar, seguir em frente é a única forma de transbordar amor.

Assim esse doce é o meu chamamento ao Amor ancestral e universal. É como se eu fechasse os olhos e convidasse todos os meus amores do passado e do presente para que recebessem o que há de melhor em mim.

Talvez o segredo da felicidade, o remédio para a melancolia seja amarmos os imperfeitos, perdoar e liberarmos o coração para que este seja ocupado apenas de coisas boas.

O perdão é o grande libertador de quem perdoa.

É o gesto divino de magnitude infinita.

É o que adoça a vida, que transforma e purifica. O perdão e o amor são essenciais à felicidade.

Assim, esse é meu doce desejo a todos nós. Um coração cheio de amor e perfume hoje e sempre.



Feliz Natal

Mirian Marclay



quinta-feira, 12 de abril de 2018

ALITERAÇÕES OU A DESNECESSIDADE DE DIZER QUE TE AMO TANTO




O que pode trazer mais felicidade
Que a brisa fresca que invade
A tarde que antes se fazia quente?
E se a gente vê contentamento
Em coisas como o pensamento
Que vagueia o arco-íris,
O beijo roubado ao pé da porta
Nos exorta a alegria.
Nasce, assim, um poema bobo
E tão cheio de poesia!

É um apuro da alma 
Apegar-se à leveza.
Acalentar-se na grandeza
Das pequenas coisas.
(Imensuráveis atos da paixão
Que se guardou no amor renovado).

O amor é o meu pequeno,
De olhar, sereno,
De gesto delicado,
De inteligência ímpar,
De crítica afiada,
De paciência quase fícta...

O amor, próprio, materno ou romântico
É parte deste instante quântico
Em que nada mais
Precisa de explicação...

quarta-feira, 21 de março de 2018

Paz Interior

Antes de mim,
Nasceu a Poesia.
Ainda que seja
Minha filha,
E que o ciclo da vida
A bendiga
Vivemos numa ciranda
Feito lavanda que perfuma
Ou terracota que esfuma
A tela da minha utopia.

Nas vésperas das minhas flores
Como bolos e doces
Ouço cantigas
Tão amigas que espantam
A própria solidão.

E brindo
Com espumante
A taça nobre:
Este corpo que acompanha a alma
Viajante de tantas vidas,
Em constante luta
Pela paz interior
E a quietude do telúrico
Coração...

terça-feira, 28 de novembro de 2017

A MENINA E A FELICIDADE



Há um infinito em mim, aos poucos, sendo redescoberto. Os anos me trouxeram muito e levaram de mim algumas estórias e histórias que penso que poderiam ainda ser vividas. Mas, como tudo gira em torno do tempo e eu sou dele mera serva e observadora estagnei meu espírito neste intervalo.
Parei para olhar para a menina. Aquela antes de ser filha, neta, esposa ou mãe de alguém. A menina.
A música antes esquecida em algum LP riscado e colocado de lado (lembrem-se somo serviçais do tempo) voltou a tocar.
A menina antes da menina conversa longamente com minha alma. Sem pretensões, sem querer ensinar ou dar conselhos. Um exercício pessoal de conhecimento mútuo.
A menina realiza pequenos sonhos, lúdicos, considerados tolos por alguns, inclusive.
Dá-se ao luxo da felicidade. Sim, felicidade é daqueles luxos que precisam ser experimentados na surdina.
A felicidade é a coisa mais honesta que existe. E é assim mesmo. Silenciosa.
Tudo o que causa furor não vem da felicidade. Pode vir da ostentação, de algum sentimento menos digno do que aquilo que ela teria a intenção de revelar ou representar.
A felicidade é coisa que se aprende sozinho. Se nascemos e morremos sós, nossa consciência e nosso espírito, é preciso encontrar motivo para ser feliz primeiro na solidão, e, depois, rodeados por boas pessoas.
Sim, por boas pessoas, pois, nem sempre no meio da aldeia encontraremos nossos pares.
A menina que flerta entre a solidão e a felicidade não encontra mais enigmas, não revela nada que não seja essencial, não dramatiza seus excessos. 
A menina finalmente compreende que amor e perdão são plantas.
Precisam de água, dos olhos, 
E tempo para crescer
E florar.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

ACEITAÇÃO



Há uma ruptura temporal no meu espírito.
E assim, suspiro em horas que passam
Correndo além da velocidade da luz.
(Ainda que eu caminhe no vale das sombras)

Compreendo que todos partiremos um dia,
Que o coração ainda pesado
Encontrará razão plena.

E por mais que nada pareça ter sentido
Ou explicação
Eu permaneço no limbo da reflexão.

Tudo é um processo.
Tudo é recomeço.

E se uma fotografia antiga
Desperta a melhor das lembranças
É nos meus álbuns
Que me apego...


(Curitiba - Natal de 2007)

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

ELEGIA

Como perscrutar a solidão e o tempo, quando o sentido de todas as coisas
Torna-se vazio diante da ausência imposta? Digo isso apesar do silêncio das palavras.
Algum oráculo, talvez, compreenderia a aflição diuturna de uma conexão sensível demais?
E se meus apelos são cantigas, calariam a música cujo verbo se faz não dito,
E o mais melancólico diálogo suprimido?
Fui ao chão sem sair de mim,
Um furacão atemporal é o estopim
Das tempestades da alma...
Enfim, revela-se a síntese do meu estado de espírito:
Tergiversando estou, em busca do alívio de minhas indagações.
Percebo-me absorta além do devaneio: em alguma bruma, de folhas esmaecidas,
Com gotículas e borbulhas refrescantes... Onde tudo é passageiro,
A ira, a decepção e o amargor, sendo que o perdão precisa ser o fim de tudo.
(Ainda que o fim seja um novo princípio)

Olho nos olhos do tempo, devorador de sentimentos,
Como se cada parte de mim flutuasse para depois deste instante.
As coisas mais delicadas me representam.
Os defeitos mais imperfeitos me representam...
Todo o muito, o incomensurável e inestimável...

Muito pouco
De mim é matéria, dou-me à leveza
Da borboleta que me guia.

Na verdade
Eu habito
A não substância
Também denominada... Poesia...

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Perspectiva


Há mais solidão
No coração que
Abandona
Do que no peito
Deixado.
Aquele que fica
Transforma-se
Pós tempestade.

A poesia
É a casa
Dos corações
Aflitos.

E que precisam
De colo.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

POEMA DOS APAIXONADOS

Ah...Tua boca na minha
Sacra santa ladainha
De um entardecer doce.
É essa boca que trouxe
O sabor da ambrosia,
Deleito-me em teus braços
O melhor dos espaços
De almas que já não caminham
Sozinhas.
Ouço o balanço do vento
À janela, os pássaros,
E de lampejo, suspeito,
Que teu beijo
Contra teu consentimento
Será roubado!

E se ainda houver espaço
E tempo,
Como numa canção de Cole Poter,
Ou de um filme retrô
Sem ser demode,
Ter o que ainda pode
Acontecer
Impresso na palma da mão
Como um descompasso
Incontrolável
Desse insondável
Rastro de paixão.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

POEMA DAQUELE QUE PENSA




Há uma inquietude intrínseca na boca no pensador.
Lambendo sobrancelhas e centelhas de sinapses.
Uma fala pausada pelas coisas sentidas,
Uma fama fadada de que a razão e o tempo caminham 
Juntos.
(Há separação de nós mesmos amparada pela metafísica?)

O pensador é o cantor mudo que perdeu a voz?
Ou que rouco de tanto gritar pela razão em nós
Está suspenso de si mesmo no direito de propagar
Seu pensamento?

Enquanto lá fora alguns lamentam
Não possuir o carro do ano,
A roupa da moda
O corpo em voga
O pensador espreme
Desesperadamente a ampulheta
Para que o tempo possa parir
Alguma seta que lhe indique
Coerência.

Enquanto lá fora alguns se apegam
Apenas à casca do ovo,
Ao consumismo como um todo,
Aqui dentro
Alguns ainda se dão as mãos
Mesmo que distantes 
Em bites, quilômetros, 
Espaço e tempos diferentes
Realidades e "classes"
Lutas mais do que íntimas...

E se em algum tempo o nó
Que aos poucos se percebe não estar só
No emaranhado turbulento do coração
Puder se soltar, liberto pela verdade objetiva,
Restará esperança
E a poesia do pensador
Não mais será do tempo 
Cativa.