O desejo me fez indigna, orvalhando suor com gosto de mel e limão
Hipnotizada, refém de abraços, de enlaces carnais
Em que a rubra rosa transcendeu em gotas de paixão.
Esse riso ausente no rosto, essa leveza são tácitos.
Não há um minuto sequer de paz no amor, aflitivo, questionador, é antagônico,
Dado por natureza é a ambigüidade do querer e a negação do sentir, este rogo multiplica-se,
E o deserto resta tomado pela imanência de um vale de rosas.
Amor desejoso de paixão é imperfeito em sofreguidão, é esquartejamento de alma.
Delicioso delito, aflito, sem dogmas, sem pregação.
A única coisa que o amor reza é a entrega.
Penitência alguma segrega tal força do peito, resto refém dessa imponência.
Nada que eu fale fere ou aparta o amor de mim.
Quanto ainda a vida pugnará desta que peca ofertando pão e vinho em sinal
Do encontro com o intangível?
Não sei, por hora recito meu rosário.
Em vale sereno de rosas tudo o que faço é ser cativa de amar.
Em silêncio oblíquo, sem cerimônias, sem palavras, pois já nem forças tenho para gritar.
Cada singelo sinal é a ilusão do ato, pois os olhos vêem o próprio reflexo.
Haveria de me despir em pesar, e deixar este mundo estarrecido a fim de que o amor me abandonasse?
Ainda assim o amor estaria comigo.
Em condição própria, nas chamas de velas, nos cheiros de incensos, na luz ou na escuridão!
Nas telas de meu próprio calvário resto prostrada, dá-me arbítrio e não destino!
Quanto ainda devo sangrar os verdes olhos,
Quantas roseiras em meu vale restarão sem água, quanto de mim restará de mágoa?
Não tenho resposta alguma de Deus, que me deixou à porta do templo.
Enclausurada de um amor de que é perdição, minha cruzada própria, o torpor que ora arremata, ora mata.
Já não me restam joelhos ou lágrimas, sou rosa do deserto, num mundo de águas.
E temendo os mesmos erros, de perder-me em ti em desespero
Cravo em pele de marfim meus próprios espinhos, em sacro calvário das minhas chagas
Na esperança de que repelindo teu amor eu volte a pertencer a mim...
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