domingo, 14 de fevereiro de 2016

DOCE ÓPIO

Das indubitáveis sendas em que me escondo
Ainda sondo os filhos do silêncio. E sem consenso,
Tampouco consentimento, tomo conta
Da pérola negra. Chove lá fora, enquanto me desoriento,
Feito bússola quebrada me guio,
Num navio sem convés, como trem sem trilho,
Sombra de um mundo sem sol em cores carnais,
Rubras,
Mesclo figuras que vejo, no álbum de recortes
Da minha filha Poesia, que por hora dança balé
Apenas com um pé.
Empoeirados estão meus livros e dedos,
Mas minha língua canta, como se apenas
Os anjos me ouvissem. E de fadiga, sob nuvens
De algum filme quase épico, eternizo folhas
Em tom de ocre, como se algum chá amarelo
Devolvesse-me o tempo que já passou.
(Em meio a tudo isso me questiono: o que fiz,
Para onde vou? Será que posso? Ainda sou?)
Suspensos assim seguem meus suspiros e
Tentativas de discernimentos...

Quando minha única certeza é
De que hoje meu corpo descansa
Nos arcos da ilusão.