terça-feira, 28 de novembro de 2017

A MENINA E A FELICIDADE



Há um infinito em mim, aos poucos, sendo redescoberto. Os anos me trouxeram muito e levaram de mim algumas estórias e histórias que penso que poderiam ainda ser vividas. Mas, como tudo gira em torno do tempo e eu sou dele mera serva e observadora estagnei meu espírito neste intervalo.
Parei para olhar para a menina. Aquela antes de ser filha, neta, esposa ou mãe de alguém. A menina.
A música antes esquecida em algum LP riscado e colocado de lado (lembrem-se somo serviçais do tempo) voltou a tocar.
A menina antes da menina conversa longamente com minha alma. Sem pretensões, sem querer ensinar ou dar conselhos. Um exercício pessoal de conhecimento mútuo.
A menina realiza pequenos sonhos, lúdicos, considerados tolos por alguns, inclusive.
Dá-se ao luxo da felicidade. Sim, felicidade é daqueles luxos que precisam ser experimentados na surdina.
A felicidade é a coisa mais honesta que existe. E é assim mesmo. Silenciosa.
Tudo o que causa furor não vem da felicidade. Pode vir da ostentação, de algum sentimento menos digno do que aquilo que ela teria a intenção de revelar ou representar.
A felicidade é coisa que se aprende sozinho. Se nascemos e morremos sós, nossa consciência e nosso espírito, é preciso encontrar motivo para ser feliz primeiro na solidão, e, depois, rodeados por boas pessoas.
Sim, por boas pessoas, pois, nem sempre no meio da aldeia encontraremos nossos pares.
A menina que flerta entre a solidão e a felicidade não encontra mais enigmas, não revela nada que não seja essencial, não dramatiza seus excessos. 
A menina finalmente compreende que amor e perdão são plantas.
Precisam de água, dos olhos, 
E tempo para crescer
E florar.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

ACEITAÇÃO



Há uma ruptura temporal no meu espírito.
E assim, suspiro em horas que passam
Correndo além da velocidade da luz.
(Ainda que eu caminhe no vale das sombras)

Compreendo que todos partiremos um dia,
Que o coração ainda pesado
Encontrará razão plena.

E por mais que nada pareça ter sentido
Ou explicação
Eu permaneço no limbo da reflexão.

Tudo é um processo.
Tudo é recomeço.

E se uma fotografia antiga
Desperta a melhor das lembranças
É nos meus álbuns
Que me apego...


(Curitiba - Natal de 2007)

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

ELEGIA

Como perscrutar a solidão e o tempo, quando o sentido de todas as coisas
Torna-se vazio diante da ausência imposta? Digo isso apesar do silêncio das palavras.
Algum oráculo, talvez, compreenderia a aflição diuturna de uma conexão sensível demais?
E se meus apelos são cantigas, calariam a música cujo verbo se faz não dito,
E o mais melancólico diálogo suprimido?
Fui ao chão sem sair de mim,
Um furacão atemporal é o estopim
Das tempestades da alma...
Enfim, revela-se a síntese do meu estado de espírito:
Tergiversando estou, em busca do alívio de minhas indagações.
Percebo-me absorta além do devaneio: em alguma bruma, de folhas esmaecidas,
Com gotículas e borbulhas refrescantes... Onde tudo é passageiro,
A ira, a decepção e o amargor, sendo que o perdão precisa ser o fim de tudo.
(Ainda que o fim seja um novo princípio)

Olho nos olhos do tempo, devorador de sentimentos,
Como se cada parte de mim flutuasse para depois deste instante.
As coisas mais delicadas me representam.
Os defeitos mais imperfeitos me representam...
Todo o muito, o incomensurável e inestimável...

Muito pouco
De mim é matéria, dou-me à leveza
Da borboleta que me guia.

Na verdade
Eu habito
A não substância
Também denominada... Poesia...

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Perspectiva


Há mais solidão
No coração que
Abandona
Do que no peito
Deixado.
Aquele que fica
Transforma-se
Pós tempestade.

A poesia
É a casa
Dos corações
Aflitos.

E que precisam
De colo.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

POEMA DOS APAIXONADOS

Ah...Tua boca na minha
Sacra santa ladainha
De um entardecer doce.
É essa boca que trouxe
O sabor da ambrosia,
Deleito-me em teus braços
O melhor dos espaços
De almas que já não caminham
Sozinhas.
Ouço o balanço do vento
À janela, os pássaros,
E de lampejo, suspeito,
Que teu beijo
Contra teu consentimento
Será roubado!

E se ainda houver espaço
E tempo,
Como numa canção de Cole Poter,
Ou de um filme retrô
Sem ser demode,
Ter o que ainda pode
Acontecer
Impresso na palma da mão
Como um descompasso
Incontrolável
Desse insondável
Rastro de paixão.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

POEMA DAQUELE QUE PENSA




Há uma inquietude intrínseca na boca no pensador.
Lambendo sobrancelhas e centelhas de sinapses.
Uma fala pausada pelas coisas sentidas,
Uma fama fadada de que a razão e o tempo caminham 
Juntos.
(Há separação de nós mesmos amparada pela metafísica?)

O pensador é o cantor mudo que perdeu a voz?
Ou que rouco de tanto gritar pela razão em nós
Está suspenso de si mesmo no direito de propagar
Seu pensamento?

Enquanto lá fora alguns lamentam
Não possuir o carro do ano,
A roupa da moda
O corpo em voga
O pensador espreme
Desesperadamente a ampulheta
Para que o tempo possa parir
Alguma seta que lhe indique
Coerência.

Enquanto lá fora alguns se apegam
Apenas à casca do ovo,
Ao consumismo como um todo,
Aqui dentro
Alguns ainda se dão as mãos
Mesmo que distantes 
Em bites, quilômetros, 
Espaço e tempos diferentes
Realidades e "classes"
Lutas mais do que íntimas...

E se em algum tempo o nó
Que aos poucos se percebe não estar só
No emaranhado turbulento do coração
Puder se soltar, liberto pela verdade objetiva,
Restará esperança
E a poesia do pensador
Não mais será do tempo 
Cativa.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

POEMA DA TRANSFORMAÇÃO



Ainda é outono e meu sono pertence à liberdade.
A saudade me reconhece além do abandono,
Aquilo que antes foi posto como regra,
Tornou-se a exceção.

Abraço longamente esperança todas as manhãs.
O despertar  vagaroso e sorridente, tem o efeito
O qual nenhum compêndio consegue descrever
Revigorando o meu existir dou-me ao princípio...

Reverbero sabores de maçãs, cafés e morango,
Notas de almíscar e temperos que desconheço,
O pouco que me reservo de sonho eu adoço
E aos poucos recolho o orvalho que me banha.

Na mística que insisto mergulhar meu corpo,
Na quântica que inspiro meus pensamentos,
Na lógica que fulcro cada ato sacro
Recrio a vanguarda do espírito.

Nada é posto até que a palavra seja plantada
Feito lenha do porvir
A acender meu coração
Na busca do inescrutável
Que domina a imensidão...

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Mudança (CHANGE)




Quando tudo rola solto e a fé te olha nos olhos
E todas as barreiras de esperança são erguidas
Protegendo o casulo para aquilo que virá... 
Ouço o sopro do tempo trazer a lembrança
Das coisas que mudaram pelo simples fato
Do acreditar.

E se aquilo que está posto impede
É a mudança de paradigmas que impele
O ser na sua rota de transformação.

Não, não deixo mais nada para amanhã,
Nem a lágrima imprecisa,
Nem o riso tolo que me transborde.

Não escuto o oráculo da sabedoria.
Somente algum hit da década de oitenta
Que magnetize e sintetize
Os mais belos acordes...


It's possible to make a difference
Thinking better and 
Making changes.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

PAPO RETO



Talvez o amor viva mesmo em mundos paralelos,
Onde castelos de princesa ainda sejam vistos,
Com salões de espelhos
Que reflitam nossa alma.
Talvez em algum palácio francês,
Ou em alguma praça da Toscana, com seus magníficos
Deuses esculpidos e despidos das artificialidades sociais.
E no meio disso, nós, meros mortais,
Caminhando por entre a sombra dos que nada sabem
E dos que acham que sabem demais,
Sejamos os gladiadores em busca da salvação,
Através do tão manjado caminho do meio.
O que é a verdade e a beleza no seio
De uma era em que o instantâneo alimenta
A inquietação metafórica de cada pseudo-razão?

Preciso mesmo da leveza de algo, ou alguém,
Que se compraza com um abraço sincero,
Com o mistério de uma estória que se desvele,
E que transmita a possibilidade de mutação.

Que o conhecimento sozinho não liberta.
A liberdade é um sentimento muito mais sofisticado:
É a linha tênue entre o que te melhora
De dentro para fora
Também conhecido como princípio da evolução...

quarta-feira, 5 de abril de 2017

POEMA PARA UM FILHO

O amor que tenho e trago
É um rasgo no peito de um cravo
Grafado em letras de amor.
Que se eu sou esse peito em flor
Derramando semente por onde passo,
É no abraço de um filho que repousa
O meu mundo.
E se dou luz em poesia
É em carne minha
Que repousa a suprema alegria.
Moldada na fineza delicada
De cristais de murano,
De bolhas de sabão,
Em renda francesa,
Na transitoriedade de um não
Com o qual educo,
Em que desejo que aprenda
Que o respeito vem antes de tudo
E que o amor é consequência da jornada.

Que eu sem meu filho
Sou o nada
E com ele sou superação.

Que eu sou o esplendor
Em seu sorriso, o canto
A concretude da sublimação.

domingo, 2 de abril de 2017

GIRA MUNDO

O jazz quebrou o silêncio
Que se vestia de pássaro
E um lastro de sol ardia
Entre o misto
De cortina de nuvem.
Nunca vi alguém reclamar
De bonança, naquele canto
Chamado de lar.
Enquanto isso as amoras,
Ainda verdes,
Eram a única espera válida.
Como uma música viciante
De Rod Stewart
Cuja letra eu nunca viveria
(Mesmo à custa de muita imaginação).
Uma coisa ainda me atrela ao chão:
O perfume do ser amado,
A seda da pele ao toque-discreto-
O olhar que não se entrega
Por completo...
Deixando um gosto
Cálido
De porvir.

E se o dia parece lânguido
Despido de objetivos, conceitos
E esperanças
O sentimento é outro...
De uma paz despertencente
A este instante
Onde a quietude
Beija minha boca.

sexta-feira, 31 de março de 2017

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Tem gente de toda sorte
Tem gente que é feito
Corte cinza do céu
E destrói a seiva,
Ceifa e desajeita
A colheita da temperança.

Mas tem gente que é bonança
E dança nas cores
Plantando os amores
Recolhendo as dores,
Filtrando rancores
E desvestindo o papel
De vítima.

Sacudindo o espírito
E buscando
Ser melhor
De verdade
Ao invés de discursar
A pseudo virtude.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

DONA AVÓ





Há um poema que dorme
Sobre o travesseiro dos meus sonhos.
Ele tem olhos como os meus,
Manias, imperfeições
E um encantamento único.
Esse poema me inspira,
Nos dias frios sem lira,
Na doce embriaguez dos sentidos
Quando a minha direção
É a de ficar perpetuamente
A seu dispor.
Chamá-lo-ia de amor,
De uma perfeita conjunção de fatores,
Mas ele é algo sintético,
Bem poético,
É a moça do retrato
Que amo.
É a dama do teatro
É a raiz do meu
Contato com o mundo.
É a rosa mais linda
Ainda que só.

É minha partida e
Chegada,
Dona Avó.

PARABÉNS PELOS SEUS 83 ANINHOS!