domingo, 23 de setembro de 2012

O REPOUSO DA FLOR




Ainda que teus olhos sejam lagos d'água
E que tu prometas beber todas as minhas mágoas, não direi
Nada que não sinta, e talvez até minta, mas não me entregarei.
Se a poesia não me trouxer o viço, o mais alucinante reboliço
De que adianta vir, dizer, e perder-me em qualquer precipício.
Porque eu preciso olhar nos olhos teus e dizer o que pretendo
E ainda que do meu ser - essa exclamação que pouco entendo
Eu não possa quase nada extrair - sigo tentando além do poema.
Não, não pense que sinto pena, que vivo em riste, ou que sou
Algo próximo de triste! Eu exclamo porque amo! Amo demais
Amo sem a paz que deveria planar na pena que me escreve,
Que se sou leve a brisa me carrega, se sou pesada a vida me nega
A calma de sentar ao lado teu, de debulhar o sem fim que me
Habita e cada uma das razões que a vida me desacredita.
Poderia desejar ser alguém tido como sábio, um personagem
Que me proporcionasse a viagem do encontrar e poder crer.
E quem sabe ter a força de me manter a deriva, algo que longe
Do breu de mim mesma sobreviva
Ser um asceta, um grande mestre ou um monge
Que expurgasse de mim toda essa ânsia, de amar, amar, amar
Se saber se o amor me ama, e compreender que sou um dos pontos
E tu é o outro nesta reta
Invisível que eles chamam de distância.

E assim, ao fim de mim, uma boca me encontre pronta
Como a lança de ponta hábil a entalhar um vaso do repouso da flor
E que me fale do tempo como se não houvesse esses lapsos
Que me afastem de fato do verdadeiro amor.

Um comentário:

  1. Que lindo. Eu já conhecia o seu blog a algum tempo, mas eu nunca tinha parado para ler seus poemas, eu tenho essa mania desgraçada de deixar para depois muitas as coisas. Mas gostei muito, foi muito lindo. Eu gosto de conhecer novos blogueiros e poetas, isso para mim sempre é uma inspiração na hora de escrever, me é um incentivo para lutar pelo meu sonho de ser escritor. Me senti muito gratificado com este seu poema. Parabéns.

    ResponderExcluir