segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

CORAÇÃO DE FERRO



O amor em flecha tomou meu peito, e em pleno leito deu-me um coração de ferro.
Como crer no que não se vê quando aos berros, trancado,
Segue açoitado da clausura da capela.
Preciso de novas taças, de noites de graça
De relâmpagos que me consumam, de amor que se consume ao menos
No sangue de um lindo poema – não temas, sou eu, redima-me do amor.
Haveria um rastro daquele por quem meu verso cravou a estaca no papel?
Ou seria o céu perversa testemunha das unhas que te cravaram a carne!!!
Quanto da poesia merece poesia, porque certas letras me jogam em labirintos
De lobos famintos que caçam a desculpa propícia para a malícia desferirem.
Ontem era madrugada, e li um sem fim de poemas – de outras eras de tempos
E aquele tempo jogou-me para longe enquanto amanhecia
E os sinos tocavam como o pulsar decorações de metal,
Cadenciando incólumes suas próprias dores de seus desgraçados amores.
Nem a dor mais me suporta. Tentou cortar-me a aorta em golpe de espada.
Mas teve sua lâmina quebrada, e assim, na madrugada
A senhora da Lua, sempre nua, canta o acalanto do encanto traduzindo
Em gotas de letras seu próprio pranto.
Talvez seja ancestral essa necessidade de queimar e alcançar alguma redenção.
Hoje não tenho nada além de mim, e, ainda assim, vim te falar das flores, estão sós,
Naquele mesmo jardim de juras, de almas puras, da inocência preservada.
Sinto-me o próprio nada de sempre, sem teto, um feto ainda no ventre, sem mãe,
Sem qualquer direito de sequer olhar ao espelho, mas absorta em meu próprio
Batom vermelho, reflexo do invólucro muito aquém da alma que encerro.
Meu coração é de ferro, do plural devaneio que impero,
Guardo-te velado, em esconderijo próprio
Em uma gaiola de aço, até que tuas asas estejam fortes
E que esse ópio seja a nossa sorte, e não a nossa morte.
Não retornei, porque nunca parti. Um coração de ferro.
Quase terno, mas um tanto férreo
Sou esse ser cujas asas volitam no céu ao esmo
Na eterna procura de si mesmo.

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